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quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Todos os dias adotamos pessoas

Maus tratos. Negligência. Famílias desestruturadas ou destruídas pelo vício. Discriminação de diversos tipos. Esses são apenas alguns motivos que levam pais a desampararem seus filhos. São razões diferentes que, para essas crianças, possuem o mesmo significado: abandono.
No Brasil há 5.281 crianças e adolescentes aptos à adoção. Do outro lado, mais de 28 mil homens e mulheres desejam adotar um filho. Se o número de pais dispostos a dar um lar é cinco vezes maior que a quantidade de crianças sem família, por que ainda existe fila de adoção? Por que ainda ouvimos relatos sobre longa espera dos que estão na fila à espera de um filho?
As casas de acolhimento estão cheias porque a imagem comumente relacionada a elas é a de bebês recém nascidos, saudáveis e, geralmente, brancos. Esses tantos homens e mulheres que estão na fila esperam porque, em grande maioria, têm exigências. Como se o processo de adoção não fosse naturalmente delicado e minucioso, algumas pessoas vão aos abrigos como se estivessem indo ao supermercado, em busca do produto perfeito para levar para casa. Além disso, existe a demora devido à burocracia envolvida no processo de adoção. As comarcas possuem poucos profissionais preparados para analisar os processos, o que atrasa ainda mais o sonho dessas crianças de ter uma família.
A cada dez pais que desejam adotar, nove exigem faixa etária de até cinco anos. Enquanto 85% dos pais se concentram nas regiões Sul e Sudeste, as regiões Norte e Nordeste possuem a maior quantidade de crianças que “cumprem” esses requisitos. Esse tipo de exigência se torna um empecilho, já que, de cem crianças, apenas nove possuem menos de cinco anos. Já os que aceitam crianças negras, pardas ou indígenas costumam ser mais flexíveis e geralmente não fazem outros tipos de restrição quanto ao sexo ou à idade. Os que buscam crianças mais velhas tampouco costumam fazer quaisquer exigências.
Esses dados revelam os mitos e tabus acerca da adoção. Quanto às exigências raciais, nota-se o preconceito encubado, disfarçado, como se para adotar uma criança, ela precisasse possuir a mesma cor dos pais para ser aceita pela família e pela sociedade. Como se, ser de uma cor diferente a impedisse de ser realmente integrada ao lar, porque a cor seria um lembrete constante de que não há laços de sangue envolvidos. Adotar é um processo de dentro para fora, e não o contrário. O desejo de ter uma família e acolher uma vida deve ser maior do que a necessidade de satisfazer o desejo pessoal de ser pai. Adotar somente com esse intuito é uma espécie de egoísmo que acaba refletindo nesse tipo de exigências. Quer dizer, você sonha em ser pai, mas o que a criança aparenta é mais importante do que ela possa se tornar em sua vida e você na dela.
Para as exigências de faixa etária, é dada a justificativa de que seria mais difícil educar uma criança mais velha. Em pesquisa realizada por Levy e Féres-Carneiro (2001), foi verificado que os pais que optam por crianças com a menor idade possível, na verdade têm o desejo de apagar a história passada da criança e cancelar qualquer herança genética que venha interferir no processo de formação. Logo, quanto mais velha ela for, mais bagagem terá e mais difícil será a adaptação entre pai e filho.
Weber (2003) realizou uma pesquisa com pais e filhos adotivos de todo o Brasil e constatou que a idade avançada no momento da adoção não é fonte de problema. Ebrahim (2000) sustenta que a adoção de crianças maiores é totalmente viável e que seu sucesso depende de fatores como a história da criança, o fato de ela desejar ou não ser adotada e, principalmente, da atitude dos pais adotivos para com ela.
As casas de acolhimento só irão esvaziar e esses mais de vinte e oito mil pais só irão realizar seus sonhos quando houver uma mudança no pensamento e na atitude de todos os brasileiros. É preciso destruir barreiras, erradicar preconceitos e perceber que adoção não é caridade e não deve ser feita por um capricho. Uma criança não entrará num lar para tentar apagar as mágoas de pais que não puderam ter filhos biológicos, e sim para ser igualmente amada. A espera dos pais é equivalente às suas prioridades: quanto mais importante for a aparência ou a idade, maior é a demora de levar seu filho para casa.
Todos os dias adotamos pessoas que não tem nosso sangue e já possuem história. Amigos, cônjuges, pessoas que aceitamos amar independente de qualquer obstáculo. Que seja assim com a adoção também. 
  

Referências:

Conselho Nacional de Justiça (CNJ)
EBRAHIM, Surama Gusmão. As possibilidades da adoção tardia. Psico,31(1), 2000.
LEVY, Lídia. Adoção e mitos familiares. In: FÉRES-CARNEIRO, Terezinha (org.). Casal e Família: entre a tradição e a transformação. Rio de Janeiro: NAU, 1999.
WEBER, Lídia Natália Dobrianskyj. Adoção: Breve análise das relações familiares. In: BRANDÃO, M. Z.; et al. Sobre o Comportamento e Cognição: A história e os avanços, a seleção por conseqüências em ação. V.11. Santo André: ESETec Editores Associados, 2003.

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