Adoção tardia: por que adotar uma criança com mais
de 3 anos?
“Mãe, sabe por que eu te escolhi como mãe? Porque você é muito
legal.”
Foi isso o
que a pernambucana Renata Vitorino, de 43 anos, ouviu recentemente da filha
Luiza, de 6 anos. Há nove meses, a pequena passou por um processo de adoção,
que hoje ela encara com muita ternura. Luiza e seu irmão Márcio, de 3 anos,
foram acolhidos, ou melhor, acolheram a nova família em um processo ainda raro
de se ver. Hoje, cerca de 70% dos 30.930 pretendentes cadastrados à adoção não
aceitam adotar crianças que tenham mais do que 3 anos de idade, segundo dados
do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). A maioria deles movida, infelizmente,
por preconceitos que ainda cercam a adoção tardia no Brasil.
“Os
pretendentes, em geral, têm o sonho de encontrar a criança ideal, mas o que
existe é a criança real, possível”, conta Hália Pauliv de Souza, mãe e avó por
adoção, militante da causa, membro do Grupo de Apoio à Adoção Consciente de
Curitiba e autora de livros sobre o tema. “Com isso, temos cerca de 5.000
crianças e adolescentes nos abrigos que fazem parte de um núcleo que a gente
não consegue encaminhar”, diz o juiz Gabriel da Silveira Matos, da Corregedoria
Nacional de Justiça, do CNJ.
Genética
“ruim”, traumas, lembranças insuperáveis da família biológica, dificuldade de
adaptação, vícios incorrigíveis… São esses os medos que alimentam os futuros
pais adotivos com relação às crianças já crescidas e os motivos que fazem com
que elas permaneçam nos abrigos sem a expectativa de encontrar uma família. No
entanto, os especialistas asseguram que todos esses receios não passam de
fantasias, julgamentos infundados.
Ter família é importante!
“Pela
Constituição Federal e pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, toda criança
precisa estar em uma família. Para se desenvolver saudavelmente, do ponto de
vista psicológico e cognitivo, ela necessita das referências oferecidas por uma
configuração familiar”, explica Suzana Schettini, psicóloga clínica e presidente
da Associação Nacional de Grupos de Apoio à Adoção (Angaad). “O mundo na
instituição é muito restrito, pouco subjetivo, pouco personalizado. Ela não vai
criar vínculos duradouros por lá, e isso impacta diretamente no seu futuro.
Além disso, o ser humano é um ser totalmente desenvolvido à base de
aprendizados. Toda criança tem que aprender, inclusive, a amar.”
Ao
completar 18 anos, elas são colocadas para fora dos abrigos. E aí, sem
referências e qualquer formação, se sujeitam a vidas completamente desqualificadas.
Os preconceitos precisam cair por terra!
De acordo
com Elena Andrei, antropóloga e professora da Universidade Estadual de Londrina
(UEL), normalmente, a criança traz, sim, memórias dolorosas. Afinal, ela passou
por rejeições continuadas, que criam marcas e cicatrizes, muitas vezes,
insuperáveis. Definitivamente, não se adotam crianças felizes. “E os
pretendentes não podem sonhar que elas saiam da instituição e, automaticamente,
esqueçam toda a história que viveram”, acrescenta Suzana.
Mas é
preciso ter em mente que todas carregam também uma enorme capacidade de lidar
com os problemas e conviver com uma cicatriz insuperável, como qualquer pessoa.
Elas só precisam de pais pacientes, flexíveis e maduros que sejam capazes de
ouvi-las e que consigam fazê-las desaprender as coisas negativas e aprender
novas.
Renata
Vitorino lembra que a filha Luiza, no início, sentia muita necessidade de falar
sobre alguns momentos duros e os contava abertamente para quem estivesse por
perto. “Algumas pessoas ficavam impressionadas, mas eu não podia impedi-la. Era
a vida dela. Ela precisava externar, e que bom que confiava na gente para
contar tudo aquilo”, disse. “À medida que o tempo passou, ela foi assimilando a
nossa família e os novos comportamentos, que foram tomando cada vez mais
espaço. Hoje, as lembranças do passado estão bem menos presentes. Vez ou outra,
Luiza volta a contá-las. Não é fácil ouvir. São histórias tristes, mas que
fazem parte da vida dela e não significam inabilidade. Elas vão ter que
aprender a lidar com aquilo, assim como a gente.”
Por isso,
a adoção tardia, em muitos casos, deve vir acompanhada de um tratamento
psicológico.
A tal da genética...
“Genética
ruim é o mais tolos dos preconceitos”, critica Elena. Cada um é resultado
direto das oportunidades que teve ao longo da vida e de tudo o que construiu
com o auxílio de familiares, amigos e conhecidos.
“De
repente, os pais biológicos da criança que está para ser adotada não seguiram
caminhos muito legais. Só que isso não foi pela genética que carregam, mas pelo
ambiente no qual viveram. Por toda uma falta de assistência de uma vida
inteira”, comenta Renata. “E, na adoção, a gente tem que estar disposto a
oferecer o melhor que podemos para que as crianças recebam o melhor que
puderem.”
Dificuldade de adaptação?
“Você não é a minha mãe.” “Eu quero voltar para a instituição.”
“To com saudades da minha cuidadora.”
O processo
de adaptação dos filhos adotivos já crescidos é recheado de testes, que não
significam dificuldades de adaptação ou rejeição à nova família. “As crianças
sentem necessidade de saber se os novos pais vão realmente aceitá-las e
suportá-las com toda a sua história e dificuldades”, explica Suzana. Não são
ameaças!
Segundo
Elena, uma criança que foi rejeitada várias vezes, de certa maneira, precisa de
algumas comprovações. “Ela se questiona sobre o motivo que fez os pais adotivos
gostarem dela, se quem deveria realmente gostar a abandonou. Ela então
verbaliza os seus ódios. Nesse caso, os pais devem ter em mente que não se trata
de uma fúria dirigida a eles. Trata-se de uma fúria dirigida às condições que a
vida deu a ela antes de conhecê-los”, explica a antropóloga.
E não
pense que com um bebê isso não acontece. A diferença é que eles se manifestam
fazendo xixi na cama, mordendo, chorando, machucando o animal de estimação.
Elas se esforçam para que tudo dê certo!
As
crianças maiores têm um enorme desejo de serem adotadas. Elas querem
desesperadamente encontrar uma família, que vai sanar as suas carências. “Já no
abrigo, Luiza me chamava de mãe. E, nesse caso, a adaptação foi minha e não
dela”, conta Renata.
Ah, e são muitas as alegrias...
A
dificuldade vai, sim, aparecer como em qualquer tipo de adoção, seja ela de
recém-nascidos ou não. Entretanto, dar essa chance às crianças já crescidas
significa poder vê-las se superando a cada dia. Muitas apresentam um certo
atraso cognitivo, resultado do tempo que passaram nos abrigos. Mas os
especialistas são unânimes ao dizer que, em poucos meses, ele pode ser tirado.
"Luiza se igualou às crianças da mesma idade na escola em apenas três
meses", conta Renata com muito orgulho.
“Depois da
adoção, é nítida a melhora do vocabulário, das escolhas dos alimentos e,
principalmente, o surgimento do brilho no olhar. A criança mostra pelos olhos
que está se sentindo bem, segura e feliz”, diz Hália. “E aí, os pais, quando
envelhecem, são capazes de fechar os olhos tranquilamente e sentir que deixaram
alguém de bem no mundo”, completa Elena.
Mas antes de tomar qualquer decisão com relação à adoção tardia,
é extremamente importante procurar grupos de apoio, ouvir
quem já passou por esse tipo de experiência e se informar ao máximo sobre o
assunto por meio de livros e filmes. “Adoção
é um ato sério, complexo, de coração e devoção. É assumir a responsabilidade de
“consertar” a vida de uma pessoa que foi destruída injustamente, porque ninguém
merece ter a vida destruída”, alerta a antropóloga.
E, além
disso, é saber que, no fim, são as crianças que escolhem a família e não a
família quem as escolhe. "Luiza é a autora total da história",
finaliza Renata.
http://www.brasilpost.com.br/2014/05/25/adocao-tardia_n_5383353.html
http://www.brasilpost.com.br/2014/05/25/adocao-tardia_n_5383353.html
Como Fasso para adotar uma criança renacida
ResponderExcluirComo fasso pra adotar uma criança renacida
ResponderExcluirgostaria de saber como adota uma criança faixa etaria mais ou menos 3 anos
ResponderExcluirComo fasso pra adota uma criança
ResponderExcluirComo faco pra adotar
ResponderExcluireu quero adotar uma menina recém nascido
ResponderExcluirQuero adotar uma criança de 3 ano
ResponderExcluirQual procedimento para adoção?
ResponderExcluirEssas crianças merecem ter.uma outra oportunidade,elas são como qualquer criança, dão trabalho, mais muito mais alegria.merecem amor,.cuidado e respeito respeito
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